O pedagogo ao longo do tempo
Ao longo dos
anos a noção do que é pedagogia, tem sofrido várias transformações até chegar
ao que é hoje, de acordo com Morandi (2008, p.31,):
A noção de pedagogia tem outra história, fortemente
marcada por sua origem, “pedagogo” é aquele que se encarrega da criança (pais,
criança; ageim, agögé, direção, condução). No entanto o paidagôgos é
primeiramente apenas aquele que leva a criança para a escola (antes de se
tornar preceptor); é, então mais um vigilante do que um instrutor. Atribui-se a
função de “mestre”, sobretudo ao didaskalos, repetidor ou “professor”.
O papel do pedagogo ao longo da
história era de condutor, encarregado para educar; mestre, assim descreve
Morandi (1998), e completa: “O pedagogo transformou-se em magíster, instigador,
guia, com a função de dirigir as aprendizagens”. Magíster, palavra de origem
latina, Morandi (1998) descreve o seu significado como mestre, cuja conduta
conduz instrução e a consciência, a imagem está associada ao saber, à
transmissão e ao vinculo com o aluno, o autor cita Rebelais, “ninguém aprende
sem um mestre”.
A
primeira constatação que se impõe quando se percorre os índices das histórias
da pedagogia, é o número proporcionalmente considerável dos inovadores em
pedagogia que não eram educadores profissionais. COMENIUS criou e dirigiu
escolas, mas era teólogo e filósofo de formação. ROUSSEAU não dava aulas e, se
teve filhos, sabe-se que pouco se ocupou deles. FROEBEL, criador dos jardins de
infância e defensor de uma educação sensorial (aliás, bem insuficiente), era
químico e filósofo. HERBART era psicólogo e filósofo. Entre os contemporâneos,
DEWEY era filósofo, Madame MONTESSORI, DECROLY, CLAPARÈDE eram médicos, e os
dois últimos também psicólogos. O mais ilustre talvez, dos pedagogos que não
era senão educador (por sinal, muito moderno), isto é, PESTALOZZI, na realidade
não inventou métodos ou processos novos, a não ser o emprego da ardósia e
assim, mesmo por razões de economia... (Piaget, 1998, p.17)
Quando se é professor, ensina-se, mas
a prática é de mestre. “O mestre é aquele que comanda, dirige, ensina”
(MORANDI, 2008, p.31). Por meio das mudanças na forma de ensinar, pode-se
perceber que a maneira a qual o ensinamento será passado depende das transformações
do homem, ou seja, para que o pedagogo possa ensinar é necessário avaliar as
necessidades da sociedade a qual ele se insere e principalmente é preciso que
tenha pessoas dispostas a aprender, afinal o processo de ensino e aprendizagem
faz parte de uma troca, na qual o ensinando também aprende com o aprendiz e com
as transformações sofridas pela sociedade. Em relação a isso Morandi (2008, p. 16) diz que:
A educabilidade como fenômeno de formação do individuo e
da sociedade em que vive consolida a pedagogia como parte racional e
sistematizada da organização da educação. O ser humano como finalidade, mas
também a humanidade como processo relacional, como experiência de troca real
entre aquele que guia e aquele que aprende, constitui a principal dimensão
pedagógica.
Em relação às transformações
pedagógicas e da educação o mesmo autor ressalta ainda que:
A educação, do ponto de vista de seu funcionamento e do
desenvolvimento dos indivíduos, é uma das atividades comuns a todas as
sociedades humanas. Ela se renova constantemente pelo processo geracional e
pela história das sociedades. Não existe verdade pedagógica, a não ser no
conjunto dos princípios escolhidos por uma sociedade.
Ensinar é algo
majestoso, requer dedicação e força de vontade, o autor acima (2010, p.23)
retrata que, “ensinar é um termo de grande alcance, que pode recobrir diversos
significados e produzir diferentes resultados naqueles que aprendem.” Talvez
seja por isso que normalmente acaba por produzir prazer e satisfação naqueles
que ensinam.
“O mínimo que se exige de um educador é que seja capaz de
sentir os desafios do tempo presente, de pensar sua ação nas continuidades e
mudanças do trabalho pedagógico, de participar criticamente na construção de
uma escola mais atenta as realidades dos diversos grupos sociais” (NÓVOA, 1999,
p. 15).
Neste contexto, Cordeiro (2010) cita a
palavra didática, que no verbo grego “didasko”, significado ensinar ou
instruir, mas Comenius, ainda o autor, dá outro significado cujo “tratamento
dos preceitos científicos que orientam a atividade educativa de modo a torná-la
eficiente”, ou melhor, “arte de transmitir conhecimentos; técnica de ensinar”.
Assim, tanto didática quanto pedagogia, consideradas no
seu significado central, trazem o sentido de transmissão, orientação, condução,
guia, direção, transporte. E esse conjunto de significados parece ser
inseparável da própria ideia de ensinar e de ensino, por mais que isso tenha
sido criticado, desde finais do século XIX, por diversas correntes pedagógicas
consideradas mais modernas ou avançadas (CORDEIRO, 2010, p. 18).
Cordeiro (2010) descreve que a
didática fornece escolha, entre os vários meios diferentes que o professor tem,
para tornar a aprendizagem em um sucesso e Perrenoud (2002) cita um ditado que
vai de encontro ao pensamento do outro autor, “é melhor ensinar a pescar que
dar o peixe”.
Um professor preparado com bom
planejamento, métodos inovadores, que busca conhecimento para ter domínio do
conteúdo a ser ministrado, descreve Cordeiro (2010), é um professor que pensa
didaticamente, porque é na didática que ele encontra recursos e procedimentos,
para então, “transmitir um determinado conhecimento para os alunos”.
O trabalho do professor não se resume
apenas ao ensinar as matérias que compõem o currículo escolar propriamente
dito, […] “ele vincula-se ao ensino de um conjunto de saberes para as crianças
e os jovens, bem como de um conjunto de hábitos, procedimentos e valores
(CORDEIRO, 2010, P. 85)”, ou seja, ele vai além das fronteiras da escola, pois
o que o aluno aprende na instituição escolar ele leva para a sociedade a qual
ele está inserido.
A escola exerce um papel de suma
importância na vida dos estudantes em geral, mas em especial aos alunos das
classes mais desfavorecidas financeiramente, que por diversas vezes têm seus
direitos a informação, cultura e educação negados ou negligenciados.
Trata-se de admitir que, para além de (ou
juntamente a) ser uma instituição destinada à socialização das crianças e dos
jovens, a escola tem uma função bastante precisa propiciar acesso ao saber.
Para as pessoas provenientes dos setores mais pobres da sociedade, talvez esse
seja o único lugar social em que elas poderão ser postas em contato com um
conjunto de saberes, práticas, instrumentos e aparatos intelectuais que não
costumam estar facilmente disponíveis em outras instituições: as ciências, a
literatura, as artes, os livros, enfim, grande parte do patrimônio cultural
acumulado socialmente só costuma chegar à maioria das pessoas mediante aquilo
que se é apresentado na escola, durante o ensino fundamental e médio (CORDEIRO,
2010, p.109).
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