A mídia potencializa o sedentarismo
Não foram apenas os
hábitos alimentares que mudou. Walker (2002, p.28) descreve que a tecnologia
está mais avançada, maior oferta em alimentos congelados, fast food e a saída
dos pais para uma maior jornada de trabalho. As atividades e brincadeiras das
crianças também sofreram alterações drásticas.
Figura: Thiago Lobo, Revista Vida e Saúde, 2011
Pelas ilustrações
anteriores, resume tanto a preferência como mudança das crianças em cada década
e como o gasto calórico acompanhou nesta mudança.
As crianças brincavam nas
ruas, cujo espaço era maior devido ao menor fluxo de carros, menor índice de
criminalidade e baixo consumo de drogas. Com o passar dos anos a criança passou
a ficar mais dentro de casa, assistindo mais programas infantis e vídeo game de
última geração, como afirma Luengo (2010, p.71):
É possível ver a
“olho nu” que nos últimos anos a sociedade mudou e, por consequência, as crianças
também mudaram. Fazem parte de um mundo globalizado, consumista, no qual as
brincadeiras de rua deram lugar aos computadores e aos jogos eletrônicos e
solitários, que, embora também possam estimular o sistema cognitivo das
crianças, “roubam” a oportunidade de socializar e gastar a energia física além
da mental.
Figura: Brincadeiras que permitem um gasto
energético maior. Disponível em: www.gruposobam.com.br
Segundo Viana et al. (2008), a criança
e o adolescente tem maior probabilidade a obesidade se não praticarem nenhuma
atividade física. A criança obesa não gosta das atividades físicas, ou porque
não apreciam ou porque encontram dificuldades na habilidade esportiva.
Darido e Souza (2008) afirmam que a
atividade física, junto com a alimentação saudável, colabora com a redução da
obesidade. A pessoa que pratica atividades físicas escolhem alimentos com menor
taxa de caloria e descrevem:
Já não há relação das
atividades físicas com os deuses ou com a sobrevivência da espécie. Em nenhum
outro momento da história da humanidade a atividade física esteve tão
relacionada a saúde, sendo reconhecida recomendada por profissionais da
medicina, da motricidade, da psicologia, da fisioterapia, entre outros. Assim,
é bem pouco contestável a ideia dos benefícios advindos da prática regular de
atividade física. (DARIDO; SOUZA, 2007, p. 286)
4.4 A mídia em debate
Diniz (2012) relata que a
ANVISA, em 2010, baixa uma resolução com regras específicas para a publicidade
de alimentos, repercutindo polêmica e a suspensão três meses depois pela
Justiça Federal, sendo esta:
A medida
previa que ao final das propagandas de produtos com elevadas quantidades de
açúcar, sódio e gorduras saturadas ou trans, deveria ser emitido um alerta
sobre os riscos desses produtos para a saúde. [...] O pedido de suspensão foi
feito pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e pela
Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia).
Em um debate ao vivo, de
um programa no Rio de Janeiro, do jornalista Alberto Dines, a autora Diniz
(2012) descreve a intensão do promotor público, João Lopes Junior, ao ressaltar
a importância na restrição da publicidade de alimentos direcionada as crianças,
porque é possível e necessária, sendo estas as palavras do promotor:
Ela pode
significar um dever do Estado. A Constituição brasileira exige que o Estado
adote políticas públicas preventivas na área de saúde. Se hoje nós temos uma
epidemia de obesidade no mundo inteiro e se essa epidemia é causada pelo
consumo excessivo de determinados alimentos, e se a publicidade estimula –
sobretudo para crianças – esse consumo excessivo, evidentemente essa restrição
se mostra necessária no contexto de uma saúde pública para promoção da saúde da
criança.
Em o mesmo programa,
Diniz (2012) descreve a fala do ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão,
questionando “será que a publicidade, ao colocar um produto de maneira
inteligente, sedutora, inovadora, mostra o outro lado? O que tem ali dentro
que, se consumido abusivamente, pode fazer mal para a saúde?”, o qual o
ex-ministro continua acrescentando que uma propaganda causou problemas à saúde
pública, porque o tema era: “Danoninho vale por um bifinho.” A autora ainda
descreve a afirmação do ex-ministro:
A sociedade vive paradoxos. De um lado, há
uma gigantesca máquina voltada para o consumo e, de outro, um forte mercado de
dietas mágicas, livros de autoajuda, academias de ginástica. Ao mesmo tempo em
que a propaganda diz `coma um pouco mais disso´, diz `você tem que ser
magrinho´.
O ministro continua
criticando a publicidade, cuja essência do que é vendido é construído por uma
pedagogia perversa, “inevitavelmente, o Estado tem que entrar como regulador desta
questão. [...] deve haver regulação e essa regulação deve ser discutida por
toda a sociedade, eu creio que sim” (DINIZ, 2012).
Diniz continua
descrevendo o mesmo programa, mas em São Paulo, contando com a participação de
Ekaterine Karageorgiardis, advogada do Instituto Alana, Ong. “de proteção à
criança que desenvolve atividades voltadas para a área de consumo”, cuja
explicação refere-se às denúncias de propagandas inadequadas para crianças: “A
gente tenta dialogar com a sociedade de uma forma ampla, que envolve as
famílias, as empresas e o poder público” e o Instituto Alana acredita que
encaminhar aos órgãos competentes, como a legislação, a Constituição, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código do Consumidor e as outras leis,
defendam “a criança de forma integral e absoluta”.
A mesma autora relata a
entrevista da advogada Ekaterine Karageorgiardis, que diz: “A abusividade e a
ilegalidade de se direcionar uma publicidade à criança é porque se sabe que ela
é ingênua e que vai replicar essa informação, transmitindo-a para o
responsável, e vai ser uma promotora de vendas” e a publicidade encontra outras
opções “de venda como as embalagens, a colocação dos produtos nos pontos de
venda e a distribuição de brindes infantis colecionáveis junto com as
refeições” para influenciar a compra.
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